O programa de hoje de manhã será refazer o caminho de ontem pelas plantações de arroz e achar o lugar onde abandonei minha bicicleta à noite porque a trava quebrou com a chave dentro (e a bicicleta trancada), devidamente acompanhada de um balinês-quebrador-de-travas (rs).
Pois é, o Carlos me convidou para um encontro de thai massage ontem à tarde, uma experiência de giving and receiving (em português me soa um pouco pornográfico… Rsrs). E era num novo estúdio de yoga que estão construindo no meio das plantações de arroz. Humm! No mínimo inusitado. Bora lá!
Éramos 8 e eu a única de bicicleta (os outros de moto – todo mundo anda de moto aqui!). Pedi pra irem devagar, mas as ladeiras foram ficando mais íngremes, o caminho mais estreito e… não teve jeito, me afastei deles. E quem “tá na chuva”… para pra tirar foto! Alguma hora eu ia acha-los, até mesmo porque a trilha que cortava as plantações, que agora não tinha mais de meio metro de largura (!) apontava uma única direção, pra frente! Rs
O medo era só o de ser derrubada num dos “lagos” da plantação por alguma das motocas que vinham na direção oposta, passando tão perto que eu até encolhia a barriga! Tipo encostando o retrovisor no guidão da bicicleta (as plantações de arroz são todas inundadas no inicio do plantio, formando enormes poças d’água). Lindo! Mas não muito convidativo pra um mergulho, hehe.
Depois de parar em 2 casas no caminho pra perguntar (“tem algum lugar de yoga por aqui… no meio do nada?” rs), vi uma grande construção composta de várias cabanas ou chalés (sei lá o que vai ser isso) e , mais ao fundo, afastado da trilha onde eu estava, um graaaaaande… “coreto”. Deve ter um nome próprio pra isso mas a melhor definição que consigo achar agora é essa. Mas beeeeem grande, e beeeeeeeeeeeem alto, a uns 4 a 5 metros do chão. Um hexágono, talvez octógono, enorme, sem portas ou janelas (claro), somente um grande vão com um telhado (estilo balinês) e vigas de sustentação de madeira. Liiiiiindo! O maior astral, com vista 360o pras plantações de arroz e a brisa soprando. Vi que tinha gente lá em cima… e eles acenavam pra mim!
Pra chegar lá, desci uma pequena ribanceira, “estacionei” a bike (olha ela ai!) e tranquei (porque no meio do nada, ninguém sabe, né?) = erro fatal! Rs
Fui andando pela lama, me equilibrando em uma ou outra tábua de madeira abandonada e cheguei no “coreto”. Um senhorzinho que surgiu do nada (mestre de obras?) me ajudou mostrando o caminho menos lamacento no final e me apontou a escada que eu deveria subir. Vejam bem… era uma construção sem portas ou janelas, um grande octógono suspenso a 4 metros do chão. Poooortanto, era uma grande escada de madeira, dessas portáteis, que pintor usa, sabe?
Subi! Feliz da vida.
Lá em cima do coreto o visual era de cênicas plantações de arroz 360 graus à nossa volta. Uma cabana aqui, um casebre ali e aquelas grandes poças d’água com brotinhos de arroz surgindo. Uma leve brisa, nenhuma parede, nenhuma janela, nenhuma porta, nenhuma grade de proteção, nenhuma divisão. Um único e grande piso octogonal elevado, sustentado por pilares de madeira e coberto por um telhado desses bem pontudos. No meio do nada. Sensacional, demais!
Já estavam todos lá, sentados em grandes matames individuais, num tom bem calmo e sereno, agradecendo a oportunidade de estarem todos juntos ali. Me juntei a eles, vieram alguns mantras e, claro, saudações aos deuses hindus.
Dois deles eram professores, que conduziram a pratica. Pediram que nos juntássemos em duplas. Ups, vai começar. Ligeiramente intimidada, olhei rapidamente a minha volta e o único homem do grupo, fora o Carlos, olhava pra mim. Sorri.
OK, eu vim de bicicleta até aqui, eu ganho massagem primeiro. Deitei de barriga pra cima, fechei os olhos. Um pouco preocupada com meus pés sujos (eu estava de chinelo no percurso todo) e com o corpo levemente suado da pratica de yoga, que tinha terminado meia hora antes… Mas isso não importou nem um pouco.
A medida em que o professor ia guiando os passos do grupo, surgia uma mão, outra mão, um pé, uma perna, um colo, uma respiração próxima do meu rosto.
“Não vou abrir os olhos, não vou abrir os olhos.”
Muito lentamente eu era esticada, torcida, dobrada, levantada, apertada em cada pedacinho do meu corpo, totalmente entregue. Lembrando que não tem nenhum teor sexual nisso! Mas tinha sim, uma entrega grande, amor, carinho, muito carinho, doação, cuidado… E foi no meio dessa troca, que veio a pergunta na minha cabeça: quem é você???
Quem é você, ser humano, que nunca me viu na vida e esta me fazendo todo esse carinho, cuidando de mim e se entregando desse jeito? Me dei conta de que não sabia nem o nome dele. Só trocamos um tímido “hi”.
A partir daí começa uma looooonga viagem interna que durou aproximadamente 2 horas… E que viagem!
A propósito, ele se chama Robert, é americano, psiquiatra (hahaha!!), tem 32 anos e esta de ferias em Bali por 1 mês, curtindo yoga e surf. Depois do jantar (sim, fomos todos jantar juntos depois, sujiiiinhos, sujinhos, num restaurante até chique 😮 e lindo! Mais tarde, nos despedimos todos normalmente, cada um seguindo sua própria viagem.