Chegando à Itacaré, o simpático motorista que veio me contando as historias da região e parou no caminho da rodovia verde para eu provar, de fato, a melhor empada do Brasil, me avisa: “estamos quase chegando. O barco vai fazer a travessia com você até o outro lado, pra pegar o jipe que faz o ultimo trecho.” Taí, simbologia perfeita para algo numa linha… cruzar a fronteira entre a realidade e um mundo imaginário… hehe
E eu de saia longa, sapatilha e mala de rodinhas… rs Isso que dá ficar valente e se lançar nessas aventuras sem saber direito pra onde tá indo…
Era num canto escondido da praia no centro de Itacaré, onde estavam amontoados alguns barcos. Uma meia dúzia de pescadores conversavam como quem termina um dia de trabalho. “É o Pedro quem vai te levar”, me apresentou um deles, que eu mal conseguia enxergar naquele lusco-fusco.
Me conduziram para uma canoa motorizada (não, eu não sabia! Qualquer semelhança é mera coincidência..), sentei no banco mo-lha-do e deixei pra trás as luzes de Itacaré com qualquer frescura remanescente.
Não foram mais de 10 minutos navegando, até se materializar uma margem a nossa frente. Vi o vulto de
um jipe branco na areia da praia. Jipe desses com J maiúsculo! Grande, forte, surrado e com cheiro de querosene. Desses jipes com experiência, bagagem de verdade, sabe?
Meu narrador dessa vez era o Daniel, que pilotava desviando de pássaros, grandes poças e pequenos animais pelo caminho de areia, enquanto me contava a historia desse lugar chamado Piracanga. Sim, porque eu tive a honra (hehe) de ser buscada por um dos “fundadores” do lugar, que mora lá a nada menos do que 9 anos!
Ele me explicou que Piracanga tem, aproximadamente, 100 moradores hoje, sendo uma grande parcela de crianças. Que na parte da frente do terreno, próxima a praia, ficam os quartos dos hospedes, as salas de terapias, o restaurante, lojinha, etc. E na parte de trás fica o loteamento dos residentes. Me contou que todos eles trabalham na própria comunidade e que, independentemente da função exercida, ganham o mesmo salário de R$1.000. “Pera aí, para tudo!! Esqueci meu computador no carro que me trouxe pra Itacaré!”
“Eu acho que isso significa que você precisa se desconectar”, ele disse, na maior serenidade, sem desviar do caminho…
Perguntei sobre eventuais regras que eu devesse saber/cumprir, e ele me disse, achando graça na pergunta, que eles apenas pedem para não fumar e usar produtos de higiene biodegradáveis. O que significa que eu poderia ter economizado uns 4 Kg de bagagem em cremes se tivesse me informado melhor … :-S Mas, chegando aqui, descobri também, que cada um é responsável por lavar a sua louca depois das refeições e que elas começam pontualmente às 8 da manha, 1 da tarde e 7 da noite. Não, não é das 6 às 8, nem das 8 às 10 o cafe. É ÀS 8! Ou seja, todos comem juntos, sempre.
No jantar resolvi testar o wi-fi do restaurante, mas foi tirar o celular do bolso para ele se espatifar no chão e quebrar a tela em mil pedacinhos… “É, acho que agora o recado tá claro.”
OK, desligo.