Ganhei de presente de aniversario paz hoje na praia (incrível!!) e uma arrumação no meu quarto com flores (Mansur descobriu meu segredo, rs).
Mas nem sombra de bolo, afinal, chocolate aqui é uma raridade! No entanto, confesso que minha dieta foi pras cucuias… Sim, muito peixe! Fresquíssimos e variados porque, fora os carnívoros Masai, todo o mundo aqui tem um “quê” de pescador. Mas o esquema é peixe com o que tem pra comer. O mercado perto do hotel onde comprei água, repelente e arrisquei um chocolate (definitivamente, não recomendo) é paupérrimo. Uma loja de uns 5 metros X 5 metros com estantes nas paredes e um quartinho no fundo onde os legumes ficam espalhados pelo chão. Basicamente só tem alho, cebola e batata. As frutas estão presentes nos restaurantes (me questiono de onde vêm) mas sem grandes variedades. Queijo? Iogurte? Esquece, o mercado só tem uma geladeira de refrigerantes. Artigos integrais passaram a léguas de distância. O esquema é farinha branca, arroz branco, açúcar branco… taaanto hormônio que o ovo da galinha não tem nem gema!! Sério, eu notei isso no café da manhã mas achei que fosse algum traço cultural na culinária. Hoje é que me explicaram que todos esses dias eu (me achando saudável por não comer as gemas) estava ingerindo litros de química… :-S
Fui, então, me aventurar no vilarejo de Nungwi propriamente dito, me afastando da região dos hotéis, ingenuamente achando que lá seria um pouco mais desenvolvido como cidade. Quem sabe não acharia um mercado melhor? Me garantiram que era seguro. Mas se as ruas dos hotéis já são de um traçado tortuoso, esburacadíssimas (verdadeiro rally na chuva), sem qualquer sombra de calçada ou asfalto… não sei nem como começar a descrever a vila… Da para imaginar um vilarejo que não deve ter nem 500 habitantes sem qualquer traçado de rua num terreno meio arenoso, meio de terra? As casas, não necessariamente coladas umas nas outras, são simplesmente espalhadas pelo um terreno acinzentado, com cara de sujo, pneus afundados na lama da água da chuva e crianças brincando em poças d’água gigantes… lixo espalhado mas não muito, porque eles não tem do que produzir o lixo… Casas de tijolo (sem qualquer reboco, claro) são um luxo, mesmo. Sao pouquíssimas. Tem casas pau a pique, escoradas na madeira, as vezes misturadas com uma especie de
treliça de folha de coqueiro… Portas, janelas, telhados, tudo improvisado. Muito, muito, muito pobre. Nenhum barulho, nenhum carro, nenhum radio, nenhuma televisão. Só vozes, poucas, da para ouvir o canto dos pássaros e o barulho do vento. De repente, meu celular toca, estridente e tenho a sensação de que a cidade inteira olhou para este ET que vos fala. Mamãe ligando para dar parabéns “Oi filhotinha, tudo bem por ai?” > “É… Acho que sim…”
Nossas favelas são um lu-xo…
Reparei que todos andavam descalços… e as mulheres usavam véu muçulmano (fui orientada a ir com joelhos e ombros cobertos).
Ficavam bravas comigo quando eu tirava foto (mesmo que não delas). As crianças, bem pequenas e andando soltas, se aproximavam de mim curiosas, as vezes falando alto num tom mais agressivo, as vezes rindo, querendo brincar. Mas as mães não gostavam. Bati uma ou outra foto e desisti… de repente me senti como se estivesse me entretendo com a miséria deles… só andei, sem rumo. Que rumo afinal?
Voltei para o contraste do mar azul turquesa uns 200 / 300 metros dali e minha memória foi rebobinando como se eu revisse todas aquelas pessoas me oferecendo plaquinhas talhadas de madeira e colares na praia. Acho que se fosse hoje eu teria comprado todas…
Convidei Mansur para me fazer companhia no jantar, por minha conta hoje.