Varanasi: um mergulho na fé

Shivalinga

Talvez, por reunir características tão extremas, a cultura de Varanasi é tida como muito madura. Aliás, é uma das primeiras civilizações do mundo!

Ela tem muitos templos, alguns museus, uma importante universidade, mas o ponto alto da visita é simplesmente observar o espetáculo da vida. E da morte. Tem que olhar alem da superfície, sentir, na verdade, pra curtir a experiência. Andar nas ruas é uma graaaaande aventura. 

Os templos não impressionam, arquitetonicamente falando. Pelo menos os que consegui entrar, hehe (ver 2 posts atrás ;-P). Mas o legal dessas visitas é observar as práticas e a fé das pessoas. Eles se dedicam de corpo e alma! Dá pra ver nos olhos, no rosto, o quanto aquilo é a vida deles… É lindo de se ver! Tira-se o sapato pra entrar no templo, claro. A diferença é que você tira o sapato no portão, às vezes na rua! E caminha pelo jardim e toda a área externa descalço. Existem vários deuses (ou manifestações de deus) Hindus lá dentro. Até aqui, nenhuma novidade. Mas, frequentemente, o centro das atenções é o Shivalinga: um objeto (muito) fálico, de forma cilíndrica, com a cabeça arredondada (isso! rs), que tem uma série de significados… mas o que me apresentaram aqui é que ele simboliza o universo. Curti 🙂 

Ah bom, e a prática nos templos é, principalmente, colocar flores no shivalinga e regá-lo com leite. Às vezes tem um recipiente pendurado em cima com uma aguinha escorrendo em cima dele… Além de deixar suas oferendas, eles tocam o shivalinga, molham a mão naquela… “salmoura” que fica depositada num “pratinho” embaixo e pingam um pouco na cabeça. Às vezes bebem! Pra ajudar, em alguns lugares fica um indiano sentado do lado colhendo o caldinho com uma mini concha pros fiéis. Gostooooso….!

Na beira do Ganges
Na beira do Ganges

Depois da visita aos templos, decidi me aventurar numa caminhada ao longo do rio para observar o que se passa por lá durante o dia. “Não tem problema você ir. Mas não vai ver nenhuma mulher andando por ali. Então, certifique-se de que chegará no hotel antes de escurecer, me alertaram.” Bom, até vi umas.. 6 mulheres, eu acho. Todas turistas e só uma sozinha (além de mim). A ghat por onde cheguei não era muito movimentada, nem simpática… Realmente só tinham homens por ali (jogando cricket, vendo a vida passar, consertando barcos..) e todos olharam pra mim. Empinei o nariz, estufei o peito, fiz cara de brava e caminhei firme, decidida, como se soubesse muito bem pra onde tava indo, rs. E andei rápido, rsrsrs. Sem olhar nos olhos de ninguém e com o radar 360 graus ligado. Essa parte era realmente bem suja,

Na beira do Ganges
Na beira do Ganges

praticamente um lixão na margem do rio. Passei por um mosteiro, construções muito antigas, “hotéis” pra lá de simples…. As crianças são muito simpáticas e curiosas. Sorriem e esperam que a gente acene de volta. Lá pelas tantas precisei desviar de um prédio abandonado e acabei dando de cara com umas fogueiras. Percebi que tinha chegado numa das ghats de cremação. E que tinham 2 corpos sendo queimados bem ali. Havia algumas pessoas assistindo. Desacelerei o passo e decidi ficar, mais ou menos perto de 2 outras turistas. Em uma das fogueiras só identifiquei madeira. Ou a cremação já estava terminando ou era um corpo pequeno (os corpos ficam no meio das madeiras). Mas na 2a vi, primeiro, os pés. “Reconheci” pelo formato, mas já não tinham um aspecto de humanos, de pele. Pareciam de um boneco. Mas, do outro lado, via-se bem a cabeça. Não o rosto, este estava coberto por um pano que ameaçava voar a qualquer momento. Mas o couro cabeludo e o resto da cabeça estavam totalmente à mostra. Assisti. Com receio daquele pano voar. Era só um corpo. Foi melhor assim, ele está bem agora, puro.

Contextualizando (bonus)… 

Varanasi… Nem falei da cidade, né?

Varanasi
Varanasi

Varanasi é uma cidade sagrada pros hindus. Peregrinos do mundo todo vêm prestar homenagens, se purificar e receber graças. Por isso, é comum ver pessoas bem vestidas andando descalças (não, não é promessa, é para sentir, tocar a terra sagrada com os pés). Além disso, ela é banhada pelo Ganges (Ganga, pros íntimos), que é mais do que um rio sagrado, é a divindade em “pessoa”! Fonte de vida! Acredita-se que suas águas tem poder curativo para o corpo e purificador para a alma (limpando pecados inclusive!). Por essas e outras, Varanasi é tida como um lugar bom para se morrer e recebe idosos e doentes de todo o pais, que vão pra lá para esperar seu fim. Imagina ter suas cinzas jogadas num rio com tantas credenciais? Para eles é, literalmente, “entregar pra deus”! Até eu pensei no assunto, hehe

Varanasi
Varanasi

Por isso, a aura mística é muito forte. Olhando friamente, no entanto, o que vemos é uma cidade imuuuuunda (daquelas que só de pisar na rua você já fica imundo), muito mal cuidada e caótica, com pessoas bizarras e figuras muito loucas! A miséria é extrema e, frequentemente acompanhada das doenças, deformidades das mais estranhas, daquelas que chocam mes-mo. Os Sadhus, renunciantes que se dedicam exclusivamente a religião com o intuito de libertar à alma, são um caso à parte. Estão em todo o canto e são muito respeitados por sua entrega, às vezes, até temidos por suas maldições. São vistos como benéficos pra toda a sociedade, uma vez que suas práticas austeras supostamente “limpam” não só seu próprio karma, como o da sociedade local. Mas eles usam maconha, gente… pelo menos é o que dizem…

Sadhu
Sadhu
0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments