Acordei antes do despertador, com o corpo todo dolorido, quebrada, parte por conta do frio que tensiona, principalmente, os músculos das costas e da nuca. Sentei, ainda dentro do saco de dormir, e comecei a alongar: pescoço, costas, pernas… Na porta da barraca, Wenceslau nos avisou que era hora de levantar, oferecendo chá de coca e uma bacia de água quente pra tomarmos nosso banho de gato, hehe. Do outro lado, Fisher nos arrancou risadas cacarejando, literalmente: “uurucu!!” Rsrs
Tínhamos meia hora para ficarmos a postos pro café da manhã. O que significa se vestir, fazer um asseio básico e empacotar nossas coisas.
“Uau!!!” A surpresa, ao sair da barraca, foi dar de cara com aquela montanha branca, gigante, no nosso
nariz. Senhora de si, refletia a luz dourada do sol que nascia, emoldurada pela neblina da manhã. Tão perto e tão distante… Um espetáculo!
Pegamos nossos pertences depois do café, e saímos rumo à um capítulo extra da jornada: uma visita ao lago Salcantay. Não era longe dali, mas o percurso de pedregulhos, sobre os quais tínhamos que nos equilibrar, o tempo todo, foi um desafio pras minhas pernas cansadas. A cor turquesa, no entanto, cravada no meio das pedras, valeu o esforço adicional. Gostinho de Everest!
Subimos mais 400 metros e comemoramos a chegada ao nosso “pico” dessa viagem: “Nevado Salcantay 4.600 m.s.n.m.” Sobrevivi!!! Agora faltam só 49 km até Machu Picchu, hehe.
Descemos, descemos e descemos, 14 km margeando o doce rio Wayra, que nasce no Salcantay e serpenteia vale adentro. A cada minuto, a neblina mudava a paisagem a nossa volta, revelando novas facetas do percurso e escondendo alguns tesouros… Cada momento era único!
O frio deu uma trégua e a paisagem foi ficando mais verde, com flores das mais exóticas, muitos pássaros e borboletas. O desafio foi se segurar nas freadas da descida, coberta de pedrinhas. Um fes-ti-val de derrapadas! Só os joelhos que não gostaram nada, nada…
Começaram a aparecer algumas casinhas, muito simples e rústicas, e foi numa delas que estava sendo preparado nosso almoço: uma cabaninha de pranchas de madeira, num pequeno terreno de buchos floridos, com cachorros e galinhas passeando a nossa volta. Tenho a impressão de que o nosso staff aluga infraestrutura local, no meio do caminho, e faz um esquema privé pra gente. Nada de luxo! Mas tudo feito com muito cuidado e saboroso. A mesma toalha com motivos peruanos, o galão com sabonetinho e toalha para lavarmos as mãos e o mesmo ritual à mesa: pães, sopa de entrada, prato principal e chá. Sobremesa só no jantar e, em geral, frutas cozidas.
Não, nada de siesta. Acabamos de comer, nos ajeitamos e continuamos, concentrados, por mais 8,5 km ladeira abaixo, totalizando 22,5. Nós e as pedrinhas :-S
No nosso “camp 2” já nos sentíamos em casa com as barracas, sacos de dormir e tal. Ah, sim! Acho que não comentei, mas a nossa traquitana sempre vai na frente, à cavalo, hehe. E não é que descolamos até um chuveiro quente? Um arraso!
Sim, estamos beeem cansados, doem os joelhos, os pés mas, pra minha total surpresa, a dor muscular mesmo não é tanta assim. Desconfio que pelo fato de estarmos caminhando sem parar… Só quero ver 2a feira!
(de volta aos) 3.300 metros