Olhei para o paredão ao nosso lado… gigante! Realmente achamos que fosse uma piada do Fisher…
“Ele não pode tá falando sério…”
Mas tava. Foram, basicamente, umas 3 horas e meia de subida bem íngrime e 2 horas de descida, igualmente íngrime. Ao primeiro olhar, achei que fossemos demorar 1 semana! Rs
“Se chover, muito cuidado porque alguns trechos ficam muito enlameados e um escorregão ali pode ser o seu último… E, quando cruzarem com alguém, escolham sempre o lado da montanha.”
Não comentei, mas já entramos floresta adentro. Eles chamam de Amazônia mas, pelo que chequei por aí, parece que a Amazônia só sobe algo em torno de 500 metros da cordilheira dos Andes. E são os Andes, diga-se de passagem, que protegem a Amazônia, criando as condições ideais pra que ela seja… A Amazônia! Com toda a sua riqueza de biodiversidade. Mas ela não acaba, assim, de uma hora pra outra, né? Aliás, por conta do aquecimento global, a vegetação amazônica está subindo os Andes a um ritmo de 25 metros por década! E não foi qualquer um que disse isso, foi um estudo da Oxford University.
Bom, Amazônia ou não, ela segue montanha acima até, pelo menos, uns 2 mil e poucos metros, onde nos encontrávamos, temperando aqueles ares Andinos, frios e áridos, com um sabor tropical. A vegetação mudou totalmente e o clima esquentou bem. Me senti totalmente em casa naquela selva exuberante e úmida.
Pra nossa sorte não choveu, ufa! E o “sprint final” da trilha foi desempenhado com louvor! Apesar dos músculos doloridos, joelhos também, pés com bolhas e nariz escorrendo, fomos num ritmo bem bom, focados, determinados.
Não posso imaginar como seria aquilo com chuva… Alguns trechos eram super estreitos (o que significa um simpático precipício do seu lado) e de pura lama endurecida. Agora inclina um pouquinho, coloca em curva e imagina… Obrigada anjo da guarda!! _/\_
Nosso presente no começo da descida foi… A 1a vista de Machu Picchu
O Jan, que tava focado nessa missão, que achou, láaaaa longe. Estávamos mais altos do que a cidadela, assim como toda aquela cadeia montanhosa que a circundava o santuário, formando uma muralha natural. De fato, muito protegido. Dali podíamos ver, claramente, que foi ela construída beeem no topo (lá na pontinha!) de uma alta e íngrime montanha, porém mais baixa do que todas as demais a sua volta. Diferente do começo da trilha, todo aquele cenário era coberto por um tapete verde garrafa, espesso.
Bom, a tarefa era, então, descer o paredão :-S Parece que foi o trecho mais longo da trilha… Ouvíamos o barulho do rio que percorria o vale lá embaixo e… não chegava nunca!!! Céus… Por isso que o Fisher nos disse, no começo: “simplesmente caminhe, sem se preocupar com o quanto falta.” Agora entendi.
Mas chegamos, aleluia! Vários outros trackers estavam sentados na beira do rio com seus pés mergulhados. “Vamos! É ótimo pros pés!”
“Fisher, se eu tirar essas botas você vai ter que me carregar no colo porque elas não entram de novo nos meus pés nem a pau…”
Fiquei morrendo de inveja da Cornnie e do Mike, mas realmente, com aquelas bolhas não dava… Aproveitei para relaxar, recostada numa pedra.
Dali, caminhamos mais uma meia hora até uma estaçãozinha de trem, no meio do nada, totalizando 57 km da trilha como um todo (devidamente medidos pelo device-multifuncional da Cornnie!). Aeeeee!!! Só tinha turista “andarilho” ali, nada mais. Sentamos, imundos, suados, exaustos e aliviados num “boteco” pé tão sujo quanto os nossos, rs, e pedimos uma Cusqueña, a cerveja local. Sim, lá estava nosso super staff! Mas o cardápio dessa vez era macarronada. Na medida!
O último trecho era de trem. Não sei exatamente por que, dado que dava pra continuar. Mas estava planejado assim, desde o começo. Então relaxamos e recarregamos as energias.
Espelho, espelho meu… Existe alguma menina mais imunda do que eu?
Nossa, nem lembrava mais como era a minha cara… Em Águas Calientes, já com cama e chuveiro quente.
2.000 metros
PS: do nosso lado direito, as montanhas mais baixas são Machu Picchu.