O Saara é logo ali

Li por aí que a questão é “quando” e não “se” a policia vai te parar na estrada. Nos disseram que adoram parar turistas por excesso de velocidade pra levar um “extra”.  Como meus antecedentes não são dos melhores (hehe) e não tivemos tempo de averiguar como é exatamente essa interação com a policia marroquina, combinamos de ir bem pianinho.

Um velhinho nos recepcionou no estacionamento da locadora para nos entregar o carro.  Sem uniforme nem nada e todo enrugado.  Achei estranho mas vamos lá. Fui organizar as coisas no carro enquanto o Jan fazia a inspeção. Pronto! Temos um mapa ótimo, que te da sua localização mesmo offline, mas fomos nos certificar sobre a direção pra Ouarzazate (a primeira parada). Ele apontou, ensaiou uma explicação mas mudou de ideia: “I’m gonna show you.” De repente aparece o velhinho todo paramentado de moto e capacete.  Achei que fosse nos levar 2 esquinas à frente mas, de repente, tínhamos seguido o velhinho por quase 10Km! “Que fofo… ele até levou a gente a um posto de gasolina! Temos que dar algum dinheiro a ele…”

“Não deve ter mais nenhum cliente hoje”, pensei.

Quando demos os 30 dirhams a ele (o que equivale a 3 dólares e é mais ou menos o valor das gorjetas nos restaurantes daqui), ele recusou. Por alguns segundos fiquei impressionada! Mas foi só por uns segundos até ele mandar: “Euros?” O Jan riu, achou que fosse uma piada e deixou pra lá. Mas o velhinho não deixou por menos e veio do meu lado do carro: “Euros?” Que cara de pau!!! Insisti com os 30 dirhams e ele acabou levando foi um sermão ao invés de Euros. 

Marrakesh

Para se chegar ao Sahara é preciso cruzar o Alto Atlas, a mais alta das 3 cordilheiras do Marrocos, que chega a 4.165 metros.  São 455Km na direção da fronteira com a Argélia. As montanhas ficam próximas de Marrakech e logo, logo… voilà! Habemus verde! A estrada é sinuosa mas boa (leia-se sem muitos buracos – porque é pista única, sem acostamento e com uma pintura rudimentar). Ora sobe, ora desce, cortando as montanhas. Mas pra quem tá acostumado à Paraty-Cunha é pinto!

A palheta de cores é um tanto ou quanto trocada… As arvores são brancas (tem flores no lugar de folhas! OK, não todas as árvores…) e as montanhas são verde e rosa: terra rosa e pedra verde! Bem diferente. A medida em que subimos, a vegetação fica mais rarefeita e começam a aparecer vestígios de neve por entre o granito. Chegamos a 2.160m e, a essa altura, é só pedregulho a nossa volta. Inclusive à venda. Parecem ovos com “gema” de pedra pink, verde garrafa ou cinza chumbo bem reluzentes! Para um leigo, sem duvida, pedras preciosas!

“10 euros”
“No, thanks.”
Não que eu seja entendida do assunto…

À medida em que descemos, começam a aparecer vilarejos minúsculos, um atrás do outro.  Umas poucas

Com direito a redemoinho de areia…

pontes atravessam leitos do que um dia foram rios. E de tanto observar casinhas ocre, uma atrás da outra, caiu a ficha: “Ja sei! As casas são todas ocre pelo mesmo motivo que muitas mulheres e homens se vestem com aquelas tunicas/caftans e véus: simplicidade e discrição”. Esse é o lema.

O pouco verde ficou pra trás e vemos verdadeiras cidadezinhas paradas no tempo, daquelas com direito a feno rolando pelo asfalto da rua principal. Muuuito de vez em quando vemos um buchinho de flores amarelinhas (tipo margarida) na beira da estrada: “Ohhhhh!”. Quase sempre tem duas especies de torre (bem simples) na “entrada”, muitas vezes com policiais de prontidão.  Numa dessas fomos parados: “Vous allez oú?” Ah, como era bom o meu francês… hahaha Puxo pela memória, aos trancos e barrancos mas não passamos aperto. Disse que vamos pra M’Hamid, respondi mais 2 perguntas e fomos liberados.

Vemos pastores à beira da estrada, a léguas de distância de qualquer coisa, com seus pequenos rebanhos de carneiros.  Me pergunto de onde vem e pra onde vão…  De repente, um homem na beira da estrada faz sinal para pararmos.  “De novo??” Ele é bem enfático! Mas não tem qualquer uniforme ou carro oficial… O Jan reduz… “Não pare! Não pare!”, eu disse. No meio do nada assim… vai saber… Seguimos em frente e pianinho, pianinho, acabamos demorando um pouquiiinho mais do que o Google Maps. Anoiteceu e tive certeza de que a estrada tinha acabado (afinal, M’hamid fica literalmente no fim da linha da N9). De repente cones e setas nos conduziam pra fora da estrada e não tinha jeito de voltar. Não fossem essas dezenas de desvios e as pessoas andando a margem da estrada, teria sido mais tranquilo. 11 horas depois, chegamos a M’Hamid (ok, com uma parada pro almoço e outras pra fotos como em Ait Ben Haddou – locação do Gladiator).  Dali pra frente só de camelo ou 4X4.

Keltouma, que me atendeu tão bem por e-mail, não deixou a desejar ao vivo: “Eu fiz um upgrade e coloquei vocês no sultan room” ☺

Sultan room 😀
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