O Saara é nosso

O hotel é todo construído com uma especie de pau a pique deles. Mas muito bem acabado e bonito! Discreto, claro. E os quartos são tipo casinhas espalhadas pelo jardim, com portas e janelas arqueadas, dos dois lados do quarto. Ele é grande, todo bege/caqui, com moveis em madeira esculpida ou metal.  Tem até uma mesinha redonda bem baixinha com 2 “mini” cadeiras.   Almofadas e tapetes dão a cor.  O teto é todo forrado com uma treliça de palha e as paredes são decoradas com tapetes ou objetos de metal recortados.  Luminárias, sempre, muitas! E as toalhas… ahhh, as toalhas… Elas tem um perfume gostoso, bem diferente dos sabões convencionais e industrializados que temos por aí. Fico pensando que devem usar algum tipo de sabão natural, ou mesmo ter um processo de lavagem todo diferente do nosso.  Sim, porque aqui é tudo beeem mais rústico.  Durmo feliz, a não ser pelo meu travesseiro que é quadrado e bem estranho :-S

O mico do dia

Claro que encaramos tanto o camelo quanto o 4×4. OK, a parte do camelo foi o mico da viagem. Tipo dar uma volta de cavalinho na pracinha. Serviu só pra nos deixar cobertos de areia da cabeça aos pés! Logo depois do banho :-S  Tinha areia até nos dentes! Bem que eu fui avisada…  A danada é fina como uma farinha e ventava hor-ro-res! Entramos no carro, que tocava uma especie de rock and roll árabe e, imediatamente, me dirigi ao motorista-garotão que nos levaria pro acampamento no deserto, com seu turbante de 20 metros (segundo ele): “tá ventando muito…” Ele nem me deixou terminar a frase e completou: “…e você quer um turbante…” 

Fala se o turbante não era necessário?

Bingo!! Eles leem pensamento como ninguém, rs. Lá fomos nos pra lojinha do amigo dele. Digamos que era tipo um antiquário: tudo com cara de beeem velho mas com algumas coisas interessantes. Só que não tínhamos tempo de averiguar. Queríamos chegar ao deserto.  Escolhemos 2 pashminas meio safadas, aprendemos a nos “enrolar” e partimos.  Já disse que ventava horrores, né? Pois é, mal dava pra ver a calçada do outro lado da rua.  A areia fina faz um efeito de fog e, obviamente, me questionei: “será que essa é mesmo uma boa ideia..?” Queria muito um céu azulão no meu passeio ao deserto mas já estávamos com tudo reservado… olhei pro lado e o Jan era só empolgação “a vida como ela é!” Seguimos por 1h e meia totalmente off road. 

Não, não é a lateral da estrada, é A estrada

Não havia caminho delimitado e nos questionávamos como ele sabia a direção, porque não seguia exatamente  em linha reta… Passamos por trechos de areia com algumas palmeiras, outros apenas com buchos rasteiros, pura areia, pequenas dunas… Passamos por uma casinha minúuuuscula, no meio do nada – um quadradinho. Nosso motorista disse que eram nômades – eles existem! :-O  O ar condicionado do carro não funcionava direito e começou a ficar bem abafado… vi que nosso motorista abriu 1 dedinho de nada a janela e fiz o mesmo.  Aparentemente, parecia ter funcionado mas, minutos depois, percebi um certo fog DENTRO do carro.  Que aflição!! Bastou esse dedinho pra nos deixar totalmente cobertos de areia: cada centímetro! Não tinha pra onde escapar :-S  

Não vimos qualquer sinal vida animal por ali (incluindo o vilarejo de M’Hamid). Nem cachorros, nem gatos, nem mosquitos ou pássaros! Nada.  OK, só camelos.  Um único carro dera sinal de vida no meio do caminho, mas desviou numa diagonal pra esquerda. “ É  uma mulher francesa que tá dirigindo”, disse ele. “Vai para um outro acampamento”.  Virou tudo pedregulho a nossa volta, por um bom tempo (no chão!)… e ficou macio de novo. De repente, um vale aparece na nossa frente, de areia e dunas. “Bem-vindos a Erg Chegaga”.  Dois pássaros voavam alegremente anunciando o fim da tarde. Só dois. “Uau, pássaros! Aqui!!!”

Tem vida no Saara

Não tinha ideia de que estávamos mais altos! Ou o vale é que é mais baixo… (porque existem depressões no Sahara). Eram umas 4 da tarde e ventava. Deixamos nossas coisas no nosso quarto, nos agasalhamos e saímos pra desfilar com nossos turbantes nas dunas, hehe (não sei o que faríamos sem eles, aliás!).  Éramos os únicos por ali, tanto no acampamento quanto nas dunas.  Nós, os 2 pássaros e o sol. Uma paisagem que lembra a dos lençóis maranhenses, mas mais dourada e sem os lagos.  Uma duna se destacava a nossa frente e decidimos que era de lá que íamos ver o por do sol. Mas não era nada fácil caminhar sobre aquelas montanhas de areia fina…  E ventava um vento friiio! Planejávamos o percurso para não ficar cara a cara com nenhuma duna grande, se possível, porque aí era areia que não acabava mais… Mas a cada subida comíamos areia da própria duna… Cada uma que vencíamos nos apresentava um novo vale a frente…“ela parecia mais perto lá do acampamento…”  Tive a impressão de ver uma pessoa em meio as dunas… “olha!” Mas, de repente, não tinha ninguém mais lá… Não sei se escondeu-se por entre as dunas ou se foi algum tipo de miragem…  Impressionante como essas coisas acontecem! Sim, nosso acampamento tinha ficado pra trás e agora avistávamos outros 2.  Minhas pernas começaram a protestar e o vento não dava trégua.  Decidimos replanejar e ver o por do sol… dali mesmo. E não foi menos lindo 🙂

Pôr do sol no Saara

Esses acampamentos permanentes ou semi-permanentes no deserto podem ser barracas de camping mesmo (beeem grandes) ou umas casinhas de pau a pique com um acabamento um pouco melhor.  Mas ultra simples!  Por incrível que pareça, os acampamentos das barracas são os mais luxuosos, pelo menos os daquela parte do deserto.  São de impressionar! Mas os preços eram completamente fora de cogitação.  Então fomos pra casinha mesmo. Reservamos uma com banheiro, mas só tinha água e luz com gerador ligado, entre 7 e 9 da noite e 7 e 9 da manhã. Fora do horário era luz de velas.  Dormir ao ar livre estava fora de cogitação com aquele vento e a previsão era da temperatura chegar a zero (ou menos!).

Achei que fosse dormir com o vento uivando, mas não.  O silêncio era sepulcral ☺ Só foi pena que não vimos aquele céu ultra, master estrelado…  Mas foi por um bom motivo: tinha uma lua cheia gigante! Dentro da casinha, mesmo sem aquecimento nem nada, a temperatura era bem amena. Viva a “tecnologia” dos nossos ancestrais! Dormi como uma pedra.

Home sweet home
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