Na pequena Tribrichy, de apenas 300 habitantes, a 100 km de Praga, tem-se uma certa sensação de que o tempo parou. Ali fica bem mais nítido o legado comunista. Quando perguntei sobre a 2a Guerra me contaram que eles tiveram sorte porque o vilarejo não foi atacado nenhuma vez. “Nós sabíamos que algo estava acontecendo, mas tínhamos tudo o que precisávamos aqui.” Voltei a 1939 imaginando aquele dia-a-dia de subsistência no campo e olhei em volta constatando que… continuaram vivendo suas vidas normalmente até hoje, aparentemente, sem grandes mudanças.
As casas são simples e aconchegantes. E a horta está lá até hoje, colorindo e perfumando a mesa. Mas a
arquitetura não é muito trivial, tipo um quarto leva ao outro e um terceiro desemboca na cozinha. “Esta sala e este quarto não eram parte da casa. Esta parte era a escola. E, durante a Guerra, alguns soldados alemães dormiam aqui. Mas esses eram bons, pagavam pelas coisas que precisavam, diferente dos russos que vieram depois”, me contou František, o patriarca que completava 79 anos. Levei de presente um vidrinho com areia da praia de Ipanema para a sua coleção, decorado com fitinhas do Senhor do Bonfim, que encontrei no aeroporto em SP, e ensaiei: všechno nejlepší k narozeninám (traduzindo: parabéns! > Naaada simples).
Móveis e objetos parecem estar ali, passando de geração em geração. Na mesa, os copos eram de um fino cristal bizotado e os pratos de uma porcelana pintada à mão. “Eram dos meus bisavós”, me contou Zdenka. Ela fez porco à milanesa com batatas cozidas e salada. Me ofereceu vinho mas agradeci dizendo que ia deixar para beber mais tarde porque ainda tinha um casamento pela frente. Ela levantou para pegar água e František aproveitou o momento, sussurrando, todo cúmplice, olhando nos meus olhos: “eu pego um vinhozinho pra você, quer?”
Agradeci mais uma vez, já rindo. Meus sogros são uns amores!