Subimos o Irauádi, rio mais importante de Myanmar que praticamente corta o país de norte a sul, até Mandalay. Visitamos o mosteiro Shwe In Bin e nos apaixonamos pelos monges. Fizemos aula de culinária com temperos exóticos e vimos o pôr do sol na U Bein Bridge – uma ponte de madeira de 1,2 Km, construída em 1850.
Tínhamos madrugado pra viajar, dado que o barco zarpava antes do sol nascer e estávamos exaustos. Decidimos, então, jantar num lugar mais gostoso pra relaxar. O Tripadvisor recomendou um hotel mais chique, bem perto do nosso, então decidi trocar as botas e os crocs por uma rasteirinha bonitinha. Como estava uma noite gostosa, tinha velas no jardim e árvores com luzinhas, pegamos uma mesa do lado de fora. Pedimos um vinho e a comida mal tinha chegado quando senti algo no meu pé…Por uma fração de segundo achei que pudesse ter esbarrado em alguma coisa mas logo entendi que a sensação teria sido outra que não a de uma… MORDIDA! Olhei para baixo da mesa e vi um animal cinza de aproximadamente um palmo com um rabo enorme saindo correndo pra minha esquerda. Um rato me mordeu!!! Que raiva! Que raiva! Que ra-i-vaaa!!!! Olhei pra comida com um conflito interno… tava tão gostosa… O hotel não era grande e cruzando um trecho pequeno do jardim o bicho já estava na rua. Chamei o garçom: “Moço um rato mordeu meu dedinho do pé!!” Ele fez uma cara de assustado e veio outro garçom e outro. Todos perdidos que nem barata tonta sem saber o que fazer. Mas quando um deles me trouxe um band-aid…. Fiquei possessa!!! “Um band-aid e nada é a mesma coisa!!! Eu quero um médico aqui a-go-ra!!” Fui ao banheiro e enfiei o pé na pia. Lavei umas 15 vezes com bastante água e sabão e esfregando com umas toalhas de mão que estavam enroladinhas numa cestinha ao lado, para arrancar qualquer coisa que tivesse ali.
Nem doeu, tá? A sensação foi parecida a de um arranhão. E sangrou tanto quanto um corte pequeno de uma folha de papel no dedo. A questão foi a aflição e a preocupação toda por conta dos riscos envolvidos que não são nada pequenos. Na hora pareceu uma eternidade, mas até que eles foram rápidos: em poucos minutos uma menina da recepção estava lá me dizendo que o carro já estava pronto, nos aguardando do lado de fora, que já tinham falado com o médico e ele nos esperava. Acrescentou que eu ficasse tranquila que eles arcariam com todos os custos. Fomos.
A menina da recepção e o motorista pareciam procurar o lugar, dirigindo devagar com o endereço na mão. Era uma rua mal iluminada e sem calçada, com casinhas bem simples.
“Acho que é aqui.”
Embicamos o carro na frente de uma das casinhas e entramos pelo portão amassado e enferrujado da garagem. No que seria a vaga do carro tinham cadeiras de plástico enfileiradas, alguns cartazes que, provavelmente, informavam sobre sintomas de doenças (eles não usam alfabeto romano) e a janela de um guichê fechada. Eram umas 9 da noite.
Entramos por uma portinha e nos vimos no que parecia ser um consultório de posto saúde público. Uma maca, um biombo, a mesa do médico, prateleiras com soro fisiológico, um desses armários-vitrine com remédios, arquivos, cartazes nas paredes e um senhorzinho de olhos puxados, cabelo espetado, saia e chinelos, claro.
Ele era fofo e nos passou bastante segurança porque 1) falava um bom inglês (coisa rara naquelas bandas) e
2) disse o que esperávamos ouvir: “você precisa tomar vacina para raiva e tétano” (como minha ultima antitetânica tinha sido 3 anos atrás ele disse que precisava tomar outra). 3 injeções depois (foram 2 doses da antirrábica), saímos do posto com um (mais um) certificado de vacinação, um isoporzinho com gelo e a próxima dose da vacina, que eu teria que carregar pelos aeroportos de Kuala Lumpur e Cingapura para tomar dali a 7 dias. Um problema de cada vez.
Detalhe: na manhã do dia seguinte a gerente do hotel estava na recepção do nosso hotel, implorando para eu não publicar nada em nenhum site ou rede social. Nos ofereceu estadia no hotel chiquetoso pelo período que fossemos ficar na cidade, todas as refeições, massagens e o carro do hotel para nos levar para onde quiséssemos… Ponderamos… mas aceitamos. Com a identidade devidamente preservada, fica tudo aqui, só entre nós. 🙂