Marco Polo, do alto dos seus 24 anos de viagem acumulados, referiu-se à Bagan como um dos lugares mais grandiosos do mundo. Tudo bem que isso foi lá pras bandas de mil duzentos e alguma coisa, no auge do então Reino de Pagan, precursor de Myanmar. Guerras e muitos terremotos modificaram o que hoje é um vilarejo não menos gracioso.
Ananda, Gawdawpalin, Mimalaung Kyaung, Thatbyinnyu, Htilominlo… Passar uns dias em Bagan é viajar ao passado, brincando de Indiana Jones caçando templos. Uma hora dizem que são 2.217, outra que são 3.312 e opto pela teoria de que são incontáveis e que o negócio é se perder pelas ruazinhas entrando onde dá na veneta. As distâncias são relativamente longas e muitos vão de charrete, já que algumas ruas são fechadas pros carros pra proteger os templos da trepidação. Mas nós (e a maioria dos turistas) preferimos a motinho elétrica 🙂 Com um guia e um mapa digital na mão, que mostra nossa exata localização sem internet, partimos flutuando pelas ruas de Bagan. Ok, ok, as ruas têm mais crateras do que a lua e muitas são de terra, mas as motinhos são tão silenciosas que parecia que estávamos voando! Uma delícia ziguezaguear por caminhos onde só se vê árvores e templos ouvindo o canto dos pássaros 🙂
Numa dessas ruazinhas 3 crianças saltitantes vinham sozinhas na direção oposta. Deviam ter uns 8 ou 9 anos. Quando nos viram deram as mãos de braços abertos e fecharam a rua, rindo, fazendo a gente parar. Achamos a maior graça e paramos pra falar com eles, que correram até nós curiosos e falando todos ao mesmo tempo: “Where are you from? Where are you from?” Eles queriam moedas do nosso país pra coleção deles mas tínhamos deixado os Reais no hotel então demos balinhas de vitamina C pra eles, hehe 😀
Ombros e pernas precisam, necessariamente, estar cobertos. E nenhum templo permite a entrada com sapatos, nem mesmo meias. Eles precisam ser deixados no pórtico de entrada, mesmo nos gigantões que têm várias estruturas espalhadas por um grande terreno. Caminhamos de pés descalços, aterrados, para ver a grande estupa dourada central e os corredores com diversas estátuas de Buda… Me questiono se a proposta de não ter sapatos é pra não sujar o templo ou, dado que ele já é imundo, pra nos despirmos um pouco de status e nos apresentarmos com mais simplicidade. Mais bonitos por fora do que por dentro, na minha opinião, e cheios de ambulantes em volta vendendo artesanatos maravilhosos, são um exercício diário de resistência pra minha pessoa :-S
Vemos 2 monges criança brincando com o guarda-chuva numa poça d’dágua, lindos (!!), enquanto nos embrenhamos mais um pouco. Um grupo de crianças menores, quase pula em cima da gente fazendo a maior bagunça… E chegamos a uns templos pequenininhos, meus favoritos! Praticamente vazios, com uma única estupa, uma única salinha embaixo e um Buda quase maior do que a sala dentro, sempre tinham um “túnel” apertadíssimo em forma de escada. Escuro (sim, tínhamos lanterna!), ele levava pra um segundo andar ao ar livre. A maioria está com os tijolos aparentes porque o revestimento externo, que os vestígios mostram que era todo trabalhado, caiu, mas isso não os deixa menos bonitos e tem a vantagem de ser um convite à escalada 🙂 Exato, nós e a torcida do Flamengo nos divertimos descobrindo “trilhas” templo acima em busca de uma vista ainda mais bonita de Bagan, especialmente quando o assunto era o pôr (ou nascer) do sol 😀