Fomos jantar com a minha prima Nara, que encontrei em plena penumbra da Caracoles, a rua principal, e aproveitei pra perguntar como era a estrada para os Geisers El Tatio.
“É ruim… Toda de terra e com muita curva”
“E tem precipício do lado?”
“Tem.”
:-S
Os geisers El Tatio são dos passeios em que se vai mais alto: 4.325 metros de altitude. E como o fenômeno só acontece no nascer do sol e a distância é longa, é preciso sair de madrugada. Eu tava preocupada com as condições da estrada, porque subir de 2.400 para 4.325 metros às 4 da manhã, numa estrada de terra que você não conhece, com pedras, precipícios e sem nenhum sinal de vida a não ser de llamas, vicuñas e pássaros… Hum… seria um tanto ou quanto desafiador. Cogitei contratar uma agência para nos levar, como a maioria das pessoas faz, mas decidi adotar o lema “devagar se vai ao longe”, e encarar.
Pra minha surpresa o Maps.me traçou uma rota que não começava na estrada principal, mas sim continuava pelo leito do rio fantasma, onde fica o nosso lodge, para o lado que ainda não tínhamos ido (porque não tem absolutamente nada lá). Saímos pelo portão às 4 da manhã, já em estado de alerta, mesmo sem uma gota de café, e começamos nosso rally num sobe e desce de terra danado, no maior breu. O navegador nos mandou cruzar o rio. OK, essa era fácil porque já sabíamos que ele era seco….. só que não. :-S Respirei fundo, joguei o farol, mas não saí do carro para analisar porque essa ideia era um pouco assustadora naquele lugar tão escuro, desconhecido e no meio do nada.
Conseguíamos ver aquelas pedrinhas redondas, típicas de fundo de rio, por baixo da água. ”Acho que dá. Parece bem raso”
Entramos com o carro, subimos o barranco do outro lado do rio e… “E agora? Pra que lado?”
Não tinha rua, estrada, nada. O lugar era tão, tão, tão ermo, cheio de montanhas de terra, areia e pedra, sem qualquer delimitação de algo que parecesse um caminho que, mesmo o Maps.me mandando virar à direita… “Direita, mas aonde??”
Não tinha nem direita nem esquerda naquela montoeira de terra…
O Jan foi navegando, enquanto eu dirigia. “Aqui, aqui, pode subir”
“Agora desça por ali, isso”
“Entre ali do lado daquela pedra…”
Juro, não sei como conseguimos mas, lá pelas tantas, chegamos de um nada para uma estrada de terra. Ufa…
Seguimos por oi-ten-ta (!) km sem ver absolutamente nada à nossa volta. Depois de uma meia hora vimos 2 pontinhos vermelhos à nossa frente e nos sentimos mais em casa. Ufa, não éramos os únicos malucos naquela aventura.
Mas lá pra umas 5 e pouco da manhã começou a bater a fome… Tínhamos preparado lanchinhos caprichados e resolvemos parar numa reta pra comer. Obvio que não tinha acostamento. Mas também não tinha movimento algum. O Jan resolveu descer do carro pra ver as estrelas. “Jura que você vai sair?!”
Eu preferi o conforto do carro pra saborear meu sanduíche de humus com peito de peru e cenoura ralada. Me perguntei se passaria algum carro pela gente e se eles parariam, pensando que tínhamos quebrado. E pararam. Era um casal e não chegaram a abrir o vidro, só acenderam a luz e fizeram um sinal de “joinha” pra saber se estávamos bem. Acendi a luz interna também e respondi com meu “joinha” do lado de cá, mostrando meu sanduíche 🙂
Chegamos aos geisers antes das agências (yes!) e tivemos tempo pra admirar à vontade as erupções das incríveis colunas de água e vapor das nascentes termais na alvorada chilena 🙂 Sim, porque o Atacama recebe 10mm de chuva por ano, mas tem alguns riozinhos, que vem dos Andes e nascentes como as do El Tatio. Nas ruas de terra de São Pedro os turistas dividem o espaço com pequenos canais de água ao ar livre.