Torres del Paine

Torres del Paine

Cato milho no teclado porque não tenho forças pra digitar… Difícil dizer que parte do corpo dói mais… doem as solas dos pés, as pontas dos dedos dos pés, as unhas dos dedões, as pernas, os joelhos, o bum-bum, a lombar, a cervical… Dói tu-do! Mas valeu a pena.

Não planejamos nada. Claro que sabíamos que estávamos indo para uma das mecas do trekking e íamos conhecer o parque, mas não tínhamos grandes pretensões.  Só que ontem, quando chegamos à Puerto Natales, o dia tava tão lindo, tão perfeito, que decidimos que íamos tentar fazer a base das torres (del Paine).  A trilha completa é beeem mais longa e leva alguns dias, dependendo do ritmo.  Mas esse trechinho maroto que te presenteia com AQUELA vista das famosas torres tem 10Km. De ida. Ou seja, praticamente uma meia maratona no total. 

Tiramos um cochilo ontem à tarde, quando chegamos, e à noite saímos pra tentar comprar uns lanches pra levar. Mas não encontramos quase nada e tínhamos basicamente chocolates, gatorade e amêndoas na mochila. “Ah, tem maçã também, acho que conseguimos sobreviver.”

O despertador tocou às 6 da matina. Tomamos um bom café e colocamos o pé na estrada. 150Km depois, ufa, chegamos ao parque nacional de Torres Del Paine. A vista da estrada já é deslumbrante e super povoada de animais silvestres.

A trilha (essa especificamente) recebe cerca de 2.000 pessoas por dia e é bem sinalizada. Ou seja, tranquilíssimo fazer sozinho.  Precisa só de muita, muita, muuuita disposição e algum preparo físico (além de boas botas, obviamente).

Os primeiros 2km são de um caminho bucólico, todo arrumadinho e plano, que já bifurca, “trifurca” várias vezes para ramificações da trilha.

Torres del Paine

Passamos por um hotel chiquetoso (sim tem vários dentro do parque com preços beeem salgados – tipo US$350 pra cima, a diária). Passamos por um riozinho fofo, uma pontezinha… e acabou a brincadeira.  Salvo um trecho mais ou menos no meio da trilha, que você entra na floresta do parque e o percurso é de terra mais úmida com folhas e, as vezes, pequenos córregos, a trilha é de subida ou descida íngreme com muitas, muitas pedras.  Ora pequenas, daquelas que te jogam no chão num piscar de olhos, ora gigantes.  Sim, tem precipício do lado.  E tem vistas lindíssimas também, das mais variadas: floresta, montanha nevada, desfiladeiro, campo, rio, vale, tem pra todos os gostos! 

Logo de cara, percebi que precisaria me concentrar na missão se quisesse chegar lá. Acertei o ritmo da subida e liguei o piloto automático: 1, 2, 1, 2, 1, 2… E adotei a estratégia de poupar as panturrilhas e os joelhos para conseguir sair da cama no dia seguinte, hehe, mesmo que isso custasse mais cansaço. Longas subidas seguidas de longas descidas e um refugio no meio para uma maçã, um gatorade e xixi.  Eu já tava beeem cansada. E começou a bater um certo desespero de ainda estar na metade do caminho… comecei a implorar mentalmente pelo fim da trilha. 

Últimos 900 metros para a base das torres

Na 2a metade comecei o exercício de ignorar a dor nas pernas e o cansaço e convoquei toda a minha determinação para ajudar na missão: “Você não quer vencer 100Km na montanha, Paola? O que são vinte?!”  Mas foi ficando mais íngreme.. e mais… os últimos 900 metros foram, simplesmente, de-ses-pe-ra-do-res.  Demos de cara com um paredão infinito de muita, muita, muita pedra.  Não era escalada, mas era daquelas trilhas que você tem que subir o degrau mais alto possível, sabe? Muitas vezes ajudando com as mãos.  Estávamos bem suados, mas o vento começou a ficar forte.  E gelado.  Coloquei o casaco por cima da blusa molhada e peguei um chocolate. Foco. Foco. Foco.

Últimos 900 metros para a base das torres

Esse trecho final não tem uma trilha muito bem definida, você precisa, simplesmente, vencer as pedras por onde mais convier. E o Jan, vira e mexe, disparava na minha frente e depois parava pra me esperar. Olhei em volta para procura-lo.  E dei de cara com as 3 torres, gigantes, atrás de um lago verde acinzentado, que repousa num vale entre 2 maciços super imponentes (e com o Jan, de pé, olhando pra mim, na mais santa paz).

O queixo caiu. Uaaaaaaaau!!! Que lindoooooo! Eu tava tão morta e tão focada que nem percebi que estávamos chegando!! É lindo demais da conta… Confesso que não esperava tanto.  Foram de 3 horas e quarenta de subida (um tempo excelente segundo o dono do hostel- ele disse que a maioria das pessoas faz em 4 horas ou mais) e valeu, valeu muito o sacrifício. 

Pausa para um momento contemplação e pra fotos, claro. Mas o segundo momento desespero, de pensar que teríamos que voltar tuuuudo aquilo, não demorou a chegar e decidimos começar antes do corpo esfriar. Go! Go! Go! Gente, o Jan bateu numa retirada que parecia prova de corrida. Céus!  Eu tentava acompanha-lo no limite das minhas forças, mas parecia que as minhas pernas já não me obedeciam mais.. Doía tudo! Sinalizei pra ele me esperar. “Seguinte: eu não vou descer nesse desespero todo. Você quer sentar o mais rápido possível, eu sei, então leve a chave do carro porque eu vou no meu ritmo.” Ele disse que ia caminhar mais devagar pra me acompanhar, mas eu ia me sentir pressionada do mesmo jeito. “Vai, vai na frente.”

Torres del PaineCheguei uns 40 minutos depois, livre, leve, solta e morta.

Assim como em El Chalten, que é um doce de vilarejo e nos arrependemos de não ter dormido por lá, a vida em Puerto Natales gira em torno do parque e suas trilhas.  São inúmeras possibilidades de percursos com durações e graus de dificuldade das mais fáceis às mais profissionais.  Muita, muita gente de todos os cantos do mundo e eu diria que a maioria por conta própria (=sem guia). Gente de todas as idades (inclusive 1 bebe e crianças – poucas mas tinha) e chamou a atenção a quantidade de pessoas mais velhas, de cabeça branca e pele enrugada, dando um show de preparo físico e disposição. Fiquei boba!

É claro que como muitas das trilhas dura alguns dias, tem também a possibilidade de dormir em refúgios e de acampar por lá.  Ficou um gostinho de quero mais…

O plano original pro jantar era comer Centolla (um caranguejo gigante daqui), mas estávamos imundos demais para ir ao restaurante que o José María, do hostel, recomendou.  Então decidimos procurar algo o mais perto possível e demos de cara com um restaurante fofíssimo que ainda não tínhamos visto: Cangrejo Rojo. “Fechou!”

Estacionamos e entramos, felizes da vida com o achado.  Era uma graça o lugar, super acolhedor e com carinha meio de fazenda, meio de casa de praia. “2 personas, por favor”

“Desculpame, pero estamos con todas las mesas reservadas”, me disse a mocinha com uma cara de pesar sincera. Quase chorei de desespero, tamanho o cansaço… Olhei rapidamente a nossa volta e tinha um sofazinho com um baú e 2 poltronas encostados num janelão vermelhho. 

“Nooooo, estamos muertos… no tenemos más fuerza… podemos quedarnos aqui sin problema (apontei pro sofazinho)… podemos comer aqui?” Quase implorei. 

E ela deixou 😀 ufaaaaa…

Sentamos, aliviados e imundos.  E tinha centolla! Não sei se foi a fome, mas ficou registrada na minha memória como a melhor comida no Chile ever!  

Vamos às dicas:

1- Dá pra fazer tudo sem guia. O ideal é pesquisar e planejar antes (porque são muitos os percursos), mas mesmo que esse não seja o seu forte dá. Os 3 percursos principais são o W e o O (as trilhas tem mais ou menos esses formatos, por isso os nomes), sendo o W o menor deles, com 71Km :-o. Também dá pra rodar de carro dentro do parque e ir estacionando em pontos diversos fazendo pequenas trilhas de 2 horas aqui, 3 horas ali… Muitas estradas são de terra, mas é tranquilo de dirigir. A trilha que nós fizemos é um pedaço do W, que leva à base das torres. No site torresdelpaine.com tem bastante informação.

2- A cidade mais próxima do parque é Puerto Natales, mas ela fica a 150Km de distância. É meio feiosa, mas a chegada pela Baia é lindíssima! Me arrependi um pouco de não ter pesquisado mais e dormido dentro do parque… Mas numa olhada rápida me pareceu que lá é 8 ou 80: ou acampa ou fica num hotel caro.

3- Tem vários passeios de barco a glaciares por ali, mas sondamos as pessoas e nos disseram que pra quem já conhecia o Perito Moreno não seria nada demais (e são caríssimos – tipo mil Reais pra 2 pessoas), então passamos. O principal deles é o Glaciar Grey. 

4- Não deixe de passar no hotel The Singular Patagonia para um café! Eu explico no proximo post 😉

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Zdenka
Zdenka
Novembro 22, 2019 2:52 pm

Díky fotografiím a textům jsem se zúčastnila cesty svého syna a jeho přítelkyně Paoly po Patagonii. S názvem Patagonie jsem se samozřejmě setkala ve škole – ale také v knize Děti kapitána Granta – Jules Verne. Zde pracovala má fantazie. Tady při pohledu na fotografie jsem poznávala skutečnost. Příroda je mocná čarodějka. Mohutný ledovec, skály, jezera, moře a milá zvířátka tučňáci. Komentáře byly nádherné. Prožívala jsem ty příběhy jako bych tam byla. Moc jim přeji jejich touhu poznávat různé kouty Země.