“Atenção tripulação: preparar para o pouso.” Olhamos curiosos pela janela. Mas sabe aquela vista de quem sobrevoa o Atlântico à noite? Pois é, não tinha nada além de uma grande escuridão do lado de fora, nem uma luzinha sequer. Welcome to the jungle!
Riscamos da listinha o encontro das águas e a torre de observação do Musa, muito interessantes e com direito à uma lojinha dessas de tirar a gente do sério, um pirarucu de casaca no almoço e um lagarto gi-gan-te pousando pra foto na saída do museu. Já o Tacacá da Gisela não deu muito Ipobe, mas ficar ali sentada na praça São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas, é uma volta no tempo deliciosa. Cheguei a conclusão de que em Manaus, definitivamente, o tempo passa mais devagar.
Chegamos ao porto também chamado São Sebastião e achamos o Big Mar, um dos barcos que faz a travessia de quase 10 horas pra Novo Airão. Tem que chegar na floresta com autenticidade, né? E já que a opção hidroavião tava fora do meu budget, optamos pela alternativa “old school” do barco regional. De madeira pintada de azul e branco e com três andares, era igualzinho ao que eu naveguei em Alter do Chão por 4 dias, uns anos atrás. Com a diferença de que esse era aberto ao público em geral e um pouco mais sujinho. Mas é incrível como a gente ajusta os parâmetros e se adapta rapidinho.
“Pode entrar”, disse um dos caras que tava no barco quando me viu parada, olhando pra dentro.
Sorri e entramos sem cerimônia, já subindo pro andar de cima, pra fujir do cheiro do diesel queimado. O convés já tinha redes por todos os lados mas, com boa vontade, conseguimos um cantinho entre dois casais com crianças :-S Olhamos à nossa volta e nos demos conta de que tinhamos que ter levado uns pedaços de corda pra amarrar a rede no barco. “Péra aí que eu vou lá fora ver se alguém vende”
“2 por R$5”, disse o moço, prontamente, na porta do barco. Brasileiro é bom nisso, né?
Vi um homem com cara de dono do pedaço quando entrei novamente e perguntei: “Paga na saída? Nós vamos pra Novo Airão” Ele me respondeu que podíamos pagar depois.
Mas a questão era o que fazer com as cordas… “Moço, você sabe dar nó pra prender rede?”, perguntei pro ambulante que passou vendendo cocada dentro do barco. Ele colocou a bandeja no chão, pegou a rede e amarrou com o nó mais idiota possîvel, dando umas 3 voltas, e foi embora sem dizer nada. E eu querendo buscar instruções no Youtube… Definitivamente, às vezes complicamos demais as coisas… Um homem passou de prancheta na mão e pediu apenas pra anotarmos nossos nomes e datas de nascimento. Simples assim.
Às 8 da noite, em ponto, ligaram os motores e fomos nos afastando das luzes da cidade, bem devagarzinho, Rio Negro acima. Mas em poucos minutos as luzes do barco já estavam apagadas e já era um breu total de ambos os lados do rio. Tanto, que até a luz dos planetas refletia na água.
Vira pra cá, vira pra lá, fomos acertando a posição na rede. O barulho do motor, grave e ritmado, foi embalando as redes e o ventinho constante foi baixando a temperatura, de um calor absurdo, super melado, pra um fresquinho… mais melado ainda.
Tomei coragem de levantar pra fazer xixi e vi umas poucas luzes na margem esquerda do rio. Logo depois o motor desacelerou. Já eram 5:30 da manhã e tinha uns caras com uns carrinhos de madeira, desses de carga, umas motos e uns carros quase tão velhos quanto os que eu vi em Havana.
Desci pra sondar um deles, de mapa na mão: “a gente tá indo pra essa pousada aqui, você leva a gente lá?”
“A Tarântula? Levo sim.”
Bom, me venderam com outro nome mas bora lá. Tava realmente preocupada de termos que andar 3km com aquelas mochilas nas costas. Nos apinhamos na Saveiro e chegamos à pousada da D. Glorinha, 120 km a oeste de Manaus.
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